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Crítica | Plano Alto

Record retoma boa dramaturgia, mas economiza com figurantes

Divulgação/Record

Carla Diaz e Bernardo Falcone como black blocs em cena de Plano Alto, minissérie da Record - Divulgação/Record

Carla Diaz e Bernardo Falcone como black blocs em cena de Plano Alto, minissérie da Record

RAPHAEL SCIRE

raphascire@gmail.com

Publicado em 1/10/2014 - 5h40

Em ano eleitoral e com o horário político gratuito em pleno vigor na televisão aberta, colocar no ar uma série que trata dos bastidores da política é no mínimo oportuno e, ao mesmo tempo, ousado, visto que o público pode se cansar do tema e fugir de programas afins. Mas a Record resolveu pagar o preço e estreou nesta terça-feira (30) a minissérie Plano Alto, de Marcilio Moraes, com direção de Ivan Zettel.

Mais do que os meandros da política, Plano Alto também revela as delicadas relações familiares de Guido Flores (Gracindo Jr.), governador do Rio de Janeiro, e seu filho, o deputado federal João Titino (Milhem Cortaz). Há, ainda, o neto Rico (Bernardo Falcone), que se envolve com o movimento dos black blocs, em clara referência às manifestações populares ocorridas em junho de 2013. É o engajamento de Rico e sua consequente prisão que faz redespertar em Dora (Jussara Freire) o interesse pela política, perdido depois que ela vê o ex-namorado Guido cada vez mais envolvido com os jogos de poder.

Guido, no passado, lutou contra a ditadura de direita, fez carreira política, mas, quando assumiu o cargo de governador, mostrou-se um conservador de primeira linha. Para se equilibrar no quadro político, fez negociatas, cedeu aqui e ali e hoje se vê envolvido em um escândalo de corrupção exatamente quando ambiciona chegar ao cargo mais alto do país, a Presidência da República.

O elenco conta com nomes que defendem bem seus papéis. Já na estreia, é possível destacar o trabalho de Jussara Freire, Gracindo Jr, Daniela Galli (Julia), André Mattos (Papudo) e Mariah Rocha (Paula). Como ressalva, salta aos olhos a repetição dos rostos em produções da emissora (boa parte dos atores esteve em cena na recém terminada Pecado Mortal), mas o banco de talentos parece ser uma preocupação que a Record não tem, a julgar pelo recente enxugamento do quadro de atores. 

O texto de Moraes é atual, vide as referências às manifestações recentes, e o viés político do autor é claro (Moraes foi filiado ao Partido Comunista Brasileiro na década de 1960) sem, no entanto, ser panfletário. É interessante notar o paralelo que o autor traça com três momentos importantes da história política recente no Brasil: Guido e a luta armada na ditadura, João Titino e os cara-pintadas do Impeachment de Collor (1992) e Rico e a juventude black bloc que ganhou as ruas em 2013. 

De uns tempos para cá, a Record tem sido marcada pela irregularidade de sua dramaturgia (os fracassos Máscaras e Balacobaco (2012), a ótima porém inexpressiva Pecado Mortal (2013) e a recente Vitória), mas com Plano Alto parece corrigir erros recentes e retoma seus velhos tempos de boa ficção.

Como ressalva, cabe apontar o excesso de discursos logo no primeiro capítulo, o que quebrou um pouco o ritmo da história, tornando-a cansativa por instantes. Também faltou figuração suficiente, tanto na cena inicial do ataque dos manifestantes quanto no discurso de Guido na inauguração da nova ala de um hospital público.  

Brincar com as representações das instâncias do poder é um exercício que a teledramaturgia brasileira faz muito pouco. Exatamente por isso, Plano Alto tem o seu valor, especialmente em um momento em que o tema é caro à sociedade. 


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