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COLUNA DE MÍDIA

Netflix faz mercado financeiro quebrar a cara ao superar Disney e Warner

DIVULGAÇÃO/DISNEY, NETFLIX E HBO MAX

Montagem de Tom Hiddleston (Loki), Gabriel Basso (O Agente Noturno) e Pedro Pascal (The Last of Us)

Tom Hiddleston (Loki), Gabriel Basso (O Agente Noturno) e Pedro Pascal (The Last of Us)

O ano de 2023 ficará marcado na história da Netflix. Desacreditada pelo mercado financeiro e alvo da revolta dos assinantes devido a atitudes impopulares, a gigante do streaming termina o ciclo com um resultado superior ao das rivais Disney e Warner Bros. Discovery na Bolsa de Valores e com um status bem melhor do que o registrado há doze meses.

De acordo com um levantamento realizado pelo Notícias da TV, de 2 de janeiro a 15 de dezembro, os BDRs da Netflix na B3 (papéis na Bolsa brasileira que reproduzem o comportamento das ações de companhias negociadas no exterior) acumularam uma alta de 51,79%. Ou seja, quem investiu R$ 1.000 nos papéis NFLX34 no início do ano viu esse dinheiro virar R$ 1.517,90.

Contudo, quem aplicou R$ 1.000 nos BDRs da Disney (DISB34) ou da Warner Bros Discovery (W1BD34) no mesmo período não teve essa "sorte". No primeiro caso, perdeu dinheiro, pois o valor virou R$ 993,50. No segundo, viu a quantia crescer para R$ 1.167,80. Caso o investidor tivesse deixado o dinheiro na poupança, a correção transformaria essa quantia em R$ 1.074,50. Em uma aplicação que renda 100% do CDI, como contas digitais e CDBs de bancos, o patrimônio seria de R$ 1.125,46.

Graças a esses números, a dona do Tudum conseguiu mudar sua imagem junto aos profissionais de Wall Street. Segundo o mapeamento do site MarketBeat, no final de 2022, o consenso do mercado era de que o investidor deveria "manter" as ações da Netflix na sua carteira --nem comprar nem vender. Na mesma época, os especialistas recomendavam a "compra moderada" dos papéis da Disney e da Warner. Hoje, as três ações possuem o status de "compra moderada".

Essa virada no jogo, tanto nos números como na opinião dos especialistas, ocorre em um ano no qual a empresa apertou o cinto e tomou medidas impopulares, como a cobrança da taxa adicional para usuários que dividem as contas e o fim do plano básico sem anúncios.

"A Netflix conseguiu manter seu espaço, em termos de receita e nível de assinantes, e fazer mudanças que estão dando certo, como o combate ao compartilhamento de senhas para conseguir monetizar um pouco mais a plataforma. Eles ainda não tiraram do papel todo o potencial dos games e a questão da venda de produtos, mas conseguiram colocar em prática outras medidas para estancar a queima de caixa", detalha William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, corretora especializada em investimentos no exterior.

Guilherme Novello, líder da área de Research da WHG, casa independente focada em gestão de ativos e de patrimônios, destaca que a euforia da explosão dos streamings próprios, ocorrida durante a pandemia da Covid-19, terminou neste ano, quando tanto empresas como analistas viram na ponta do lápis que não é tão simples replicar o sucesso da Netflix.

"Vimos que esse modelo é muito mais difícil do que as pessoas imaginavam. Sem escala, é muito mais difícil ganhar dinheiro, tanto que a maioria das empresas perdem recursos, com exceção da Netflix. Então, saímos de um panorama no qual todos viam esse streaming como um player em um mercado supercompetitivo", afirma Novello, que exemplifica a análise com a seguinte analogia: "Muitos analistas dizem que a mídia não é um bairro muito bom. Assim, podemos dizer que a Netflix é a melhor casa em um bairro ruim".

Quando você pensa nos negócios, existem dois pontos importantes: conteúdo e distribuição. No passado, a Netflix tinha distribuição, mas o conteúdo bom era da Disney e da Warner. Hoje, elas continuam sendo casas de produtos excelentes, mas a Netflix virou uma casa de fazer conteúdos em quantidade. As pessoas geralmente falam dos hits, mas a verdade é que você precisa de conteúdo médio, pois é esse que mantém as pessoas na plataforma.

No caso da Warner, a fusão com a Discovery colocou a companhia em um processo de reestruturação sob o comando de David Zaslav, executivo que liderava desde 2006 a empresa especializada em documentários e conteúdos sobre vida real.

"A empresa tem um bom gestor, mas ele é um cara do mercado tradicional, de TV a cabo. Além disso, os analistas ficam preocupados com a dívida do grupo, que é superior a US$ 40 bilhões [R$ 194,73 bilhões na cotação atual], sendo que eles têm apenas US$ 2 bilhões [R$ 9,74 bilhões] em caixa. É inegável que a empresa tem valor, vide os êxitos da HBO e da Warner, mas aqui estamos falando da dívida, da reestruturação, dos desafios de um gestor tradicional em um novo ambiente, ele vai conseguir se reinventar?", indaga o integrante da Avenue.

"Na Disney, teve uma tempestade perfeita que culminou na volta do Bob Iger. Ele tem um histórico de sucesso na companhia, sabe tocar o negócio e está colocando ordem na casa. No Disney+, ele está fazendo o negócio dar dinheiro e parar de queimar caixa", reforça Alves, que resume essa disputa da seguinte maneira:

Para a Netflix, o cenário é muito bom: um competidor está alavancado, tentando recuperar mercado. O outro está resolvendo seus próprios problemas. Enquanto isso, a Netflix fica lá se defendendo muito bem.

Patinho feio?

Contudo, os especialistas explicam que o mercado financeiro não enxerga a Netflix como uma empresa de mídia, mas como um negócio de tecnologia --tanto que ela faz parte das FAANG, acrônimo das maiores big techs dos Estados Unidos: Facebook/Meta, Amazon, Apple, Netflix e Google.

Nesse recorte, o streaming comeu poeira da Meta e da Amazon. Assim, R$ 1.000 investidos nos BDRs dessas empresas no começo do ano seriam R$ 2.601,10 e R$ 1.618,30, respectivamente. No caso da Apple e do Google, a valorização foi mais tímida: os mesmos R$ 1.000 se transformaram em R$ 1.397,10 e R$ 1.377,20.

"Existem muitas empresas disponíveis para o investidor, mas nem todas são interessantes. A ação eventualmente pode ter uma repercussão, mas quando olhamos um papel, analisamos o negócio propriamente, e a Netflix tem várias fragilidades que não nos agradam, mesmo que a ação tenha subido", pondera o estrategista-chefe.

O principal ponto negativo do negócio da Netflix é o modelo de receita, até pouco tempo limitado ao pagamento das assinaturas. Enquanto isso, as concorrentes Apple e Amazon podem ganhar dinheiro também com venda de produtos e serviços. No mercado de mídia, Disney e Warner ainda faturam com televisões, licenciamentos, parques, entre outros.

Com essas fragilidades à vista e o temor da perda de mercado devido ao surgimento dos streamings rivais, os papéis da Netflix amargaram uma desvalorização superior a 40% entre 2021 e 2022. "Mesmo com a alta deste ano, continuo tendo uma opinião de que é um negócio complexo, uma empresa que precisa focar em manter aquele volume elevado de assinantes, mas fica cada vez mais difícil crescer e mais caro manter esse público", complementa Alves.

Para Novello, a preocupação com os concorrentes foi superada, pois o streaming provou ser um bom negócio. "Agora, se é um bom investimento hoje? Para o investidor ganhar dinheiro com a Netflix, ela precisa surpreender no lado dos assinantes ou produzir e licenciar conteúdos que atraiam mais usuários. É uma boa empresa, mas sob o ponto de vista de ganhar dinheiro nos próximos doze meses, é algo mais questionável", alerta.


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