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ANÁLISE

Por que William Bonner apresentou JN de navio e está usando camiseta preta?

Reprodução/Globo

William Bonner durante o Jornal Nacional de quinta-feira, diretamente de navio da Marinha, em Porto Alegre; ele usa camiseta preta e camisa jean

William Bonner no Jornal Nacional de quinta (9), diretamente de navio da Marinha, em Porto Alegre

DANIEL CASTRO

dcastro@noticiasdatv.com

Publicado em 10/5/2024 - 13h02

O jornalista William Bonner virou notícia nos últimos dias por ancorar o Jornal Nacional, diretamente da inundada Porto Alegre, usando camiseta preta no lugar do paletó e da gravata. Na edição de quinta-feira (9), além da camiseta, Bonner vestia uma camisa jeans em um navio da Marinha carregado de doações às vítimas das chuvas que assolam o Rio Grande do Sul desde o fim de abril.

Além de reforçar um aspecto apontado pelo crítico Mauricio Stycer, da Folha de S.Paulo, de que a cobertura da Globo tem "transmitido um olhar bajulador para o papel de forças militares no salvamento de vítimas", a presença de Bonner na embarcação teve outra finalidade: permitir a apresentação do JN de um lugar seguro, distante de incômodos conservadores que invadem transmissões gritando "Globo lixo".

Foi assim desde segunda-feira (6). No primeiro dia na capital gaúcha, Bonner surgiu em um lugar inundado, mas de uma sacada, a alguns andares do solo. Na terça (7), o enquadramento foi quase o mesmo, mas dessa vez ele anunciou que estava no mirante Olhos Atentos, "uma estrutura metálica que fica voltada para o Guaíba". Ao fundo, militares faziam uma operação.

Na quarta (8), Bonner surgiu na quadra esportiva de um clube que funciona como um centro de triagem de roupas a serem distribuídas aos desabrigados. Ao fundo, dois policiais.

A orientação na Globo é evitar ao máximo a exposição a riscos de invasão de transmissões. Isso vem desde 2013, quando a emissora passou a ser alvo de protestos por gente que a identifica como "destruidora de valores tradicionais", "pecaminosa" e até de "esquerda".

A Globo chegou a enviar seguranças para acompanhar repórteres em transmissões ao vivo. Em passeatas, colocou seus jornalistas no alto de prédios, longe da multidão. Mas em várias oportunidades, sem a proteção de vigilantes, foi surpreendida por gritos de "Globo lixo". Na tragédia do Rio Grande do Sul, há ainda aqueles que demonizam a emissora por ter entrado um tanto tardiamente na cobertura, preferindo a transmissão do show de Madonna em Copacabana (Rio).

Numa transmissão como a do JN, no entanto, isso não pode acontecer. Os lugares em que Bonner aparece têm sido escolhidos com critério visual e de segurança. No caso do navio da Marinha, prevaleceu a segurança, porque quase nada se via de Porto Alegre ao fundo, pela distância e pela escuridão.

Figurino deve transmitir empatia

Bonner tem sido acompanhado por dezenas de profissionais. Durante esta semana, a cúpula da Globo se mudou do Rio para a capital gaúcha. Estão lá Ricardo Vilella, seu diretor de Jornalismo, seus principais repórteres, editores e produtores.

A camiseta preta do âncora do JN também foi algo pensado. A Globo recomenda que seus âncoras e apresentadores usem roupas informais quando saírem do estúdio para noticiar tragédias. Mulheres devem evitar maquiagem carregada, como tem feito Patrícia Poeta à frente do Encontro.

O uso de um figurino básico, sem qualquer ostentação, visa passar empatia para a audiência, mostrar que a emissora é solidária com todo o sofrimento que registra.

Fonoaudióloga da Globo e doutora em Ciências dos Distúrbios da Comunicação pela USP, Leny Kyrillos deu uma pequena aula sobre o assunto em sua participação no quadro Comunicação e Liderança na CBN, rádio da Globo, na quinta-feira:

A gente sabe como é fundamental que os profissionais que estão informando, os profissionais da mídia, façam isso de maneira cuidadosa. É uma tragédia que está afetando muitas pessoas, e é muito importante que os jornalistas se coloquem de forma empática, apresentando essa empatia até por meio de detalhes simples, como, por exemplo, a roupa".

"Gente, é uma situação de luto, luto pela perda de pessoas, luto pela perda de trabalho, pela perda de alimentos, pela perda das casas, pela perda material", continuou.

"Tudo comunica, a roupa que você escolhe, o fato de uma jornalista mulher estar maquiada, com exagero ou não, com acessórios chamativos. Tudo isso acaba simbolizando um descuido, uma dissociação, uma falta de respeito com aquelas pessoas", completou Leny. Portanto, nada de cobrir soterramento usando bota da grife britânica Burberry.


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